Os rapazes tentavam se aproximar dela, meio assustados
diante de tanta exuberância. Namorou vários e não sabia ao certo quando teve um
caso de amor duradouro. Muitas vezes, o sujeito até era seguro, tinha certa
autoconfiança, mas era só passar com a moça em algum lugar ou ir a uma boate e ao
perceber que todos os olhares iam em direção a ela para o castelo começar a
ruir. Até os nãos ciumentos começavam a desenvolver algum tipo de neurose e
quando menos se esperava, a relação acabava e Sabina ia novamente paquerar em
alguma roda de samba ou baile funk. Ser uma mulher fatal talvez não seja tão
fácil.
A relação mais duradoura que teve foi com Xavier. Sujeito
boa pinta e rico. Adorava mostrar a mulher para os outros que entre uma saída
da moça ao banheiro ou coisa do gênero rolava sempre uma cantada dos amigos.
Foi quase um ano de muitas idas a festas, lançamentos de carros, inauguração de
lojas de grã-fino e ela exposta como se fosse um frango no espeto numa padaria.
Tudo acabou quando a moça viu o namorado
se pegando com uma vendedora feinha de uma loja de roupas na Oscar Freire. Foi
ali que decidiu, em definitivo, que nunca mais se apaixonaria por algum homem.
Como o destino sempre gosta de aprontar das suas, foi ali,
numa loja de departamentos, desta que se compra qualquer coisa e divide em oito
vezes que a moça cravou olhos em um rapaz normal. Obviamente não era rico,
porque estava comprando camisas e calças sociais para o trabalho. Também não
tinha um corpo malhado em nenhuma academia, pois uma barriga saliente apontava
na camisa social. Tinha cara, também, que saíra a pouco de algum escritório por
perto, pegaria um trem ou metrô, atravessaria a cidade para voltar à labuta no
dia seguinte.
Olhou o rapaz tão atentamente que chamou sua atenção. Claro,
de início, ele imaginou ser algum engano, afinal como tão prodígio da natureza
feminina poderia sentir qualquer interesse por ele, um sujeito tão normal? Ela
fingiu escolher um acessório qualquer na arara da loja e foram para a fila
juntos. Ela não conseguia disfarçar o interesse por aquele rapaz tão comum.
Pagaram à conta, ele dividiu a sua em algumas parcelas e,
como sabia que ele não tomaria a frente, ela disse que gostou da cor de algumas
camisas. Ele agradeceu e antes que fosse embora para o mundo, ela o convidou
para um lanche, ali mesmo na praça de alimentação. Inicialmente o rapaz
estranhou o convite, mas já que morava por perto e estava de carro – um de qualquer
tipo, popular e motor 1.0 - , aceitou. Bateram papo como se fossem grandes
amigos. E se despediram com a troca de telefones e um beijo cordial nas faces
mútuas.
Encontraram-se na mesma praça de alimentação e viram as luzes
serem apagadas e o shopping sendo fechado por inúmeras vezes. Dias depois deram
o primeiro beijo e fizeram sexo algumas semanas depois, ela, como sempre,
voraz. Ele, tímido, não sabendo ainda ao certo se era muita areia para o
caminhão dele.
Após uma noite longa de sexo, ela acordou, tomou uma ducha e
ao voltar para o quarto viu o rapaz ali, estendido, cansado e dormindo.
Imediatamente o coração apertou e um sorriso brotou, sem sentido, no rosto. Sentiu-se amando aquele sujeito e precisava dizer isso a ele.
Tocou os lábios dele com os seus e ele abriu os olhos, um pouco
assustado, mas se acalmou rapidamente. Ouviu um “eu te amo” em seu ouvido e disse
de volta um “eu também”. Se beijaram loucamente, fizeram sexo novamente e ela
deitou sobre o seu peito, na certeza de que agora sim era uma mulher completa.
Os próximos dias foram estranhos para Sabina, de repente não
sentiu mais vontade de usar suas minissaias e os tomara-que-caia. Começou a
comprar, sem perceber, roupas mais largas, pintou os lábios com uma cor mais
suave, também o fez com as unhas das mãos e dos pés. E não aguentava passar um
dia longe do seu amor. Conseguiu até escrever algumas linhas de amor, mas
acabou mesmo foi copiando uma poesia da internet para por no cartão do presente
do dia dos namorados.
Aquela mulher visceral foi dando lugar a uma mulher mais
calma na cama. De poucas posições, de menos exibicionismo e mais palavras de
amor ao pé do ouvido. Não sentia mais vontade de fazer sexo várias vezes ao dia
ou todo dia. Encontrar aquele homem diariamente, dormir no seu peito parecia
ser o mais importante. E após uma transa, decidiu que definitivamente amava
aquele homem e não era mais a Sabina de antigamente.
Imagem do site Comic House.
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