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13 de setembro de 2012

A Sabina de antigamente - Conto - Blog e-Urbanidade

Sabina era a típica mulher fatal, deliciosa e se estivesse na mídia receberia algum nome de fruta. Seria uma verdadeira salada de frutas diante da bunda e seios fartos. Não havia um ser vivo, por onde passasse que não parava para vê-la. Os homens tinham desejos lascivos e as mulheres, morriam de inveja. Mas, tudo era feito por ela despropositadamente, apenas sabia que lhe caia muito bem as minissaias, os corpetes sem alças, as calças justas, os saltos altíssimos e um batom extremamente vermelho nos lábios. Era tipicamente uma mulher sensual.  Quente na cama. Levava todos à loucura.

Os rapazes tentavam se aproximar dela, meio assustados diante de tanta exuberância. Namorou vários e não sabia ao certo quando teve um caso de amor duradouro. Muitas vezes, o sujeito até era seguro, tinha certa autoconfiança, mas era só passar com a moça em algum lugar ou ir a uma boate e ao perceber que todos os olhares iam em direção a ela para o castelo começar a ruir. Até os nãos ciumentos começavam a desenvolver algum tipo de neurose e quando menos se esperava, a relação acabava e Sabina ia novamente paquerar em alguma roda de samba ou baile funk. Ser uma mulher fatal talvez não seja tão fácil.

A relação mais duradoura que teve foi com Xavier. Sujeito boa pinta e rico. Adorava mostrar a mulher para os outros que entre uma saída da moça ao banheiro ou coisa do gênero rolava sempre uma cantada dos amigos. Foi quase um ano de muitas idas a festas, lançamentos de carros, inauguração de lojas de grã-fino e ela exposta como se fosse um frango no espeto numa padaria.  Tudo acabou quando a moça viu o namorado se pegando com uma vendedora feinha de uma loja de roupas na Oscar Freire. Foi ali que decidiu, em definitivo, que nunca mais se apaixonaria por algum homem. 

Como o destino sempre gosta de aprontar das suas, foi ali, numa loja de departamentos, desta que se compra qualquer coisa e divide em oito vezes que a moça cravou olhos em um rapaz normal. Obviamente não era rico, porque estava comprando camisas e calças sociais para o trabalho. Também não tinha um corpo malhado em nenhuma academia, pois uma barriga saliente apontava na camisa social. Tinha cara, também, que saíra a pouco de algum escritório por perto, pegaria um trem ou metrô, atravessaria a cidade para voltar à labuta no dia seguinte. 

Olhou o rapaz tão atentamente que chamou sua atenção. Claro, de início, ele imaginou ser algum engano, afinal como tão prodígio da natureza feminina poderia sentir qualquer interesse por ele, um sujeito tão normal? Ela fingiu escolher um acessório qualquer na arara da loja e foram para a fila juntos. Ela não conseguia disfarçar o interesse por aquele rapaz tão comum.

Pagaram à conta, ele dividiu a sua em algumas parcelas e, como sabia que ele não tomaria a frente, ela disse que gostou da cor de algumas camisas. Ele agradeceu e antes que fosse embora para o mundo, ela o convidou para um lanche, ali mesmo na praça de alimentação. Inicialmente o rapaz estranhou o convite, mas já que morava por perto e estava de carro – um de qualquer tipo, popular e motor 1.0 - , aceitou. Bateram papo como se fossem grandes amigos. E se despediram com a troca de telefones e um beijo cordial nas faces mútuas. 

Encontraram-se na mesma praça de alimentação e viram as luzes serem apagadas e o shopping sendo fechado por inúmeras vezes. Dias depois deram o primeiro beijo e fizeram sexo algumas semanas depois, ela, como sempre, voraz. Ele, tímido, não sabendo ainda ao certo se era muita areia para o caminhão dele.

Após uma noite longa de sexo, ela acordou, tomou uma ducha e ao voltar para o quarto viu o rapaz ali, estendido, cansado e dormindo. Imediatamente o coração apertou e um sorriso brotou, sem sentido, no rosto. Sentiu-se amando aquele sujeito e precisava dizer isso a ele.

Tocou os lábios dele com os seus e ele abriu os olhos, um pouco assustado, mas se acalmou rapidamente. Ouviu um “eu te amo” em seu ouvido e disse de volta um “eu também”. Se beijaram loucamente, fizeram sexo novamente e ela deitou sobre o seu peito, na certeza de que agora sim era uma mulher completa.

Os próximos dias foram estranhos para Sabina, de repente não sentiu mais vontade de usar suas minissaias e os tomara-que-caia. Começou a comprar, sem perceber, roupas mais largas, pintou os lábios com uma cor mais suave, também o fez com as unhas das mãos e dos pés. E não aguentava passar um dia longe do seu amor. Conseguiu até escrever algumas linhas de amor, mas acabou mesmo foi copiando uma poesia da internet para por no cartão do presente do dia dos namorados.

Aquela mulher visceral foi dando lugar a uma mulher mais calma na cama. De poucas posições, de menos exibicionismo e mais palavras de amor ao pé do ouvido. Não sentia mais vontade de fazer sexo várias vezes ao dia ou todo dia. Encontrar aquele homem diariamente, dormir no seu peito parecia ser o mais importante. E após uma transa, decidiu que definitivamente amava aquele homem e não era mais a Sabina de antigamente. 

Imagem do site Comic House. 

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