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30 de janeiro de 2011

Felizes para Sempre - Conto - Blog e-Urbanidade

Ela sempre gostou de sair de casa, mesmo que fosse para comprar um jornal na esquina. Gostava de almoçar, jantar, tomar o lanche, um sorvete, conversar com as amigas, desde que fosse fora de casa. Estava sempre, mais ou menos, pronta pra sair. Bastava um retoque na maquiagem, a troca de alguma peça da roupa e pronto. Já estava lá fora.

Ele já era caseiro. Tentava de todas as maneiras não sair. Preferia comer um miojo feito em casa do que ter que sentar em algum restaurante. Assim, evitava cumprimentar um monte de gente pelo caminho ou comer com uma criança que chorava na mesa ao lado. Até por isso, tinha fixação por aqueles serviços de entrega. Tinha cardápio de todo tipo e era amigo de vários entregadores ou atendentes de telefone. E para sair, sempre tinha uma barba a fazer e a roupa pra trocar.

Ela adorava ouvir música. Tinha todos os lançamentos. Sabia da vida de todos os artistas e quando ia ao show de algum deles, era daquelas que cantava a música todinha. E nunca tinha paciência para filmes, dormia logo depois do trailler.

Ele já adorava cinema. Sabia de todos os diretores, datas, detalhes. Foi crítico de cinema numa revista da faculdade e acabou seguindo carreira no jornal da cidade. Tinha todos os clássicos e não tinha um filme que não soubesse alguma informação. Já de música, não gostava muito.

Num dia de chuva, a luz da casa dele acabou e teve que ir comprar velas. Ela acabara de sair de um show de voz e violão de algum cantor recém conhecido. Por causa da mesma chuva, foram se esbarrar na marquize do mercado, pois até o show teve que parar por causa do temporal. Ele e ela se cruzaram, se olharam e sorriram. Ele se esqueceu das velas e ela das músicas do amigo cantor.

A conversa começou a fluir. Falaram da chuva e descobriram que gostavam dos dias chuvosos. Ele disse que adorava tomar chocolate quente nesses dias e ela, também. Ele explicou que foi comprar vela naquele supermercado que odiava. Ela achou impressionante a semelhança, pois ela também odiava ir alí. A conversa foi indo e descobriram os mesmos gostos: no sabor do sorvete, na cor das roupas, nos dias da semana preferidos...

Quando a chuva melhorou, desperiram e descobriram que tinham o carro da mesmar cor, prata. Riram muito das coincidências e ficaram impressioandos com tanta semelhança. Por isso e por outras mais, casaram e... Foram felizes para sempre?

Ela me disse, há dias atrás, que ele andou melhorando, foi até no show do Caetano com ela. Claro que ele pediu para ela parar de cantar, pois tinha pagado uma fortuna por aquele lugar e queria ouvir o cantor. Ele me confessou, na conversa que tivemos à beira da piscina, na feijoada do aniversário dele, que ela pelo menos sabia quem era Mazzaropi e que até achou interessante, assistir Cidade de Deus em um cinema antigo da cidade que não vendia grandes sacos de pipoca caríssimos.

São felizes, sim. Hoje nem se lembram das semelhanças, só falam das diferenças. Repetem pra todos a mesma história de como se conheceram. Mas no fim, dão um beijo e sorriem. Não se largam. Amam-se! Acho que amar é isso, apaixonar pelas diferenças. Acho que talvez ele até tem vontade de sair mais e gostar de música e ela, de ficar em casa e ir ao cinema. Todos nos apaixonamos pelas diferenças, mesmo que, no final das contas, as semelhanças acabam sendo esquecidas, com o tempo.

Publicado em 24 de março de 2005
Próxima semana tem mais

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