Lembrei-me de quando era criança e adolescente, falávamos e
acreditávamos que o Brasil ainda ia dar certo. Mas, a gente não botava muita
fé. Não sei por que, mas me veio aquele dia em que assistíamos tevê na sala de
casa e Sarney dizia de um novo plano ou de tirar zeros ou de congelar salários
ou criação de um gatilho salarial ou... Eram tantos planos que tínhamos a
certeza de que nada daria certo. E naquela época a gente recebia o salário pela
manhã, tinha que correr até o doleiro e trocar a moeda para ver se assim dava
para pagar as contas que venceriam no final daquele mesmo mês.
Lembrei-me do dia que Fernando Collor acabou com a poupança
de todos. Algumas pessoas se mataram, outras se desesperaram e, o pior, esse
mesmo sujeito foi destituído do cargo anos depois. Aqui também é aquele país do
presidente letrado, estudou na Soborne. E quando Lula finalmente ganhou a
eleição? (Se você acha que esse é um
texto lulista, petista ou qualquer outra coisa, pode parar por aqui. Meu
objetivo é apenas pensar na nossa história, cruamente!) Fico pensando se
teríamos chegado lá se um sujeito simples não tivesse chegado à presidência.
Erámos um país em que o bom estava lá fora. Tínhamos que
aprender indo para a Europa e, se a grana não desse, uma chegadinha em Buenos
Aires. Ares europeu! E acho que ai está o grande legado de Lula, retirando
qualquer discurso político no tema, acreditar nesse país torto. Vou ser
sincero, eu morria de ódio e já teci muitas e muitas discussões sobre o tema assim
que fui conseguindo elementos para entrar nelas, a valorização de obras nacionais
que nos colocavam ainda menores. Por exemplo, o brasileiro típico de Macunaíma,
um brasileiro feio, envergonhado, atrapalhado, feio, pequeno, nascido em pé e
ainda com cara de mané.
Não, não acho que com a chegada do Brasil nas Olimpíadas ou
na Copa tenha resolvido grandes problemas nacionais, mas já andamos um bocado
para resolvê-los. Por isso, ontem escrevi no Twitter que construímos, sim, um
país. Eu, você e todos nós. Um país que começa a valorizar sua arte e sua
cultura sem que isso descambe para esculhambação de Oswald de Andrade. Um
Brasil que trabalha, tem competência, se esforça, com uma religião sincretista
presente até mesmo naquelas que vieram de outros continentes como a protestante
e católica.
É, estou feliz com esse país. O Aquele Abraço lá de
Londres de ontem mostra que avançamos bem. Chegamos lá, sem que isso não deixe
de apontar para novos desafios, mas com orgulho de que realmente construímos um
país que, querendo ou não, deu certo.
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