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25 de junho de 2017

A Glória e A Graça (disponível no NOW) - Blog e-Urbanidade

A Glória e A Graça - filme que retrata o retorno
da irmã travesti vivida por Carolina Ferraz
A Glória e A Graça conta a história de duas irmãs em que uma delas descobre estar próxima da morte, acometida de um aneurisma. Então, precisa ter alguém para cuidar dos seus filhos e sua única opção parece ser Luiz Carlos, agora Glória (Carolina Ferraz). Esse bem armado argumento na verdade decepciona e acaba sendo um raso e enviesado olhar sobre a questão do transgênero no Brasil.

Para começar o roteiro de Lusa Silvestre (O Roubo da Taça, E Aí... Comeu e Estômago) e Mikael de Albuquerque (Real - O Plano por Trás da História) é um aglomerado de atrapalhadas e falas nada aprofundadas dos personagens. Desde a cena rápida em que Graça (Sandra Corveloni) descobre em uma só tacada que tem um aneurisma e só tem o irmão para dar conta disso à cena final, não dá para ficar sem dar algumas risadas diante das escolhas do script.

Também os diálogos incomodam em A Glória e A Graça. Percebe-se que Sandra consegue dar uma melhor embocadura às suas falas, mas dá pena nas crianças e adolescentes com seus diálogos de adulto. O ápice desse desconforto está na cena da biblioteca em que Papoula (Sofia Marques) recebe a cantada de um amigo adolescente.

A direção de Flávio R. Tambellini (Vidas Partidas, O Concurso e Carandiru) também é um pouco confusa, principalmente na sua escolha estética em usar a saturação de cores. Na cena do primeiro encontro das irmãs, no parque. é marcada por uma nuvem estranha sobre elas que nada acrescenta ao roteiro.

Enquanto isso o roteiro de A Glória e A Graça aposta numa visão quase de desserviço ao drama dos transgêneros. A vida pregressa da travesti Glória na Europa e sendo atualmente dona do restaurante parece colocar no esforço próprio a única e necessária forma de se tornar uma pessoa bem sucedida. Inclusive quando aparece Lea T, em uma participação que espera-se que dê uma guinada no longa-metragem, mostra que a questão da prostituição seja apenas uma escolha e não uma necessidade diante das reais dificuldades de se inserir no mundo do trabalho, por exemplo.

Se as irmãs se reúnem apenas porque Graça não tinha com quem deixar os filhos após sua morte, o conflito da relação entre elas e sua família se resume em lembranças da infância, sem revelar traumas, medos e inseguranças, que, sem dúvida, são muitos para um travesti. E chega-se ao cúmulo quando Glória diz que roubava as calcinhas da irmã e, em gargalhadas, promete comprar uma coleção francesa para pagá-la.

Por fim, a escalação de Carolina Ferraz para interpretar Glória. Com certeza um risco assumido pela atriz, porém me senti assistindo àqueles filmes e peças de teatro que usavam o blackface para representar os negros. Carolina tenta e quando a projeção inicia não dá para deixar de torcer pela atriz. Mas, diante de tudo já exposto aqui, percebe-se que não é isso que acontece.

O filme está disponível no Now, recomendo desde que a proposta seja fazer uma análise em como a cultura de massa brasileira (sem nenhum juízo de valor!) se propõe a se apropriar do tema, porém veja antes (ou depois) algumas produções comentadas aqui no blog: Laerte-se, Transparent e São Paulo Hifi (que comentarei em breve).

Boa sorte!

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