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4 de agosto de 2011

Um porto para pousar um coração - Blog e-Urbanidade

Tem coisas que não tem como dar errado. Regina Braga num monólogo, dirigida por José Possi Neto, interpretando a escritora Elizabeth Bishop, num dos teatros mais charmosos de São Paulo, o Eva Herz, dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional na av. Paulista. Ah, tem mais uma coisa fundamental: o texto é da dramaturga Marta Góes que tem se tornado expert em textos com grandes protagonistas femininas.

Com todos esses elementos não tem mesmo como errar a mão e é exatamente isso que vi, nessa quarta-feira, no palco, aqui em São Paulo. Emocionante e, tenho mesmo que dizer isso, um dos textos e interpretações mais comoventes que já assisti.

Trata-se da história de Elizabeth Bishop, a poetisa que veio ao Brasil para algumas palestras e aqui ficou, por mais de dez anos. Apaixonou-se por Lota Macedo Soares e construiu uma história de amor comovente e que perpassa por vários momentos históricos do nosso país.

No palco vão sendo expostas as cenas e emoções pelos quatro cantos, de forma extremamente bem construída. Aliás, a crítica de teatro Barbara Heliodora considera que os profissionais apresentam “a variedade possível a um espetáculo solo e cria gradações emocionais com cuidado”. E olha, que isso é impressionantemente conseguido.

A peça fica em cartaz em dois dias estranhos, quarta e quinta, por isso a casa devia estar pela metade, mas todos devem ir. Não tenho dúvida que ao entrar em contato com uma história dessa ficamos melhores. Talvez possamos no entender com mais eficácia e, de alguma forma, nos conectamos com nossos sentimentos, instalados lá dentro. E, às vezes, adormecido. Acho que o bom de qualquer obra intelectual é quando ela nos liga a algo perdido, lá no fundo do coração.

Espero ter conseguido passar a vocês o que realmente senti no espetáculo Um Porto para Elizabeth Bishop, mas se não, quero deixar uma mensagem explícita: não deixem de ir!

Em determinado momento, a atriz declama a poesia abaixo, Uma Arte. Copei para vocês:

Tradução de Paulo Henriques Britto

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “



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