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5 de setembro de 2017

Boca de Ouro de Gabriel Villela - Blog e-Urbanidade

Malvino Salvador é o Boca de Ouro
de Gabriel Villela
Foto: João Caldas
O que esperar do clássico Boca de Ouro dirigido por Gabriel Villela? Batata! O encontro de dois universos próprios, de traços marcantes, na leitura do mundo e das artes cênicas. A montagem em cartaz no Tucarena, com o elenco afiado encabeçado por Malvino Salvador, Lavínia Pannunzio e Mel Lisboa, é de impressionar, mesmo não sendo possível esperar outro resultado ao ler nos créditos o nome do dramaturgo e do diretor.

No palco a história do bicheiro Boca de Ouro (Malvino) assassinado e algumas versões dos fatos é contada, (re)contada e (des)contada durante a encenação. Assim, além de toda a verve rodriguiana, aqui o dramaturgo expõe como a realidade pode assumir contornos diferentes a partir do olhar e dos sentimentos do seu interlocutor. Inclusive como tudo pode virar espetáculo, mesmo diante da tragédia humana.

Dai, Gabriel faz a leitura do clássico a partir do seu olhar estético apurado, com referências mitológicas. Aqui ele apropria tanto da música carioca (e francesa) para marcar os dramas, como do frequente detalhismo, que lhe é peculiar, no figurino, iluminação e cenografia. Por fim, o texto impostado dá um tom irônico e cômico sobre a história cruel de um assassinato.

Boca de Ouro de Gabriel é um melodrama sobre a pós-verdade e é nesse viés que o montador apropria das diferentes versões da história. Por isso, assim que o expectador entra na sala, há uma imersão na visão mitológica do protagonista, presente nas almofadas douradas e na gafieira onde acontecerá todo o jogo cênico. E quando as luzes apagam, ao final, ninguém ao certo sabe qual é a verdadeira história, quem é realmente o bicheiro e mais uma dúvida: o que é mesmo essa tal verdade.

É preciso elogiar, também, a provocação ao desconstruir a figura do mocinho global, Malvino Salvador, ao interpretar esse bicheiro que trocou seus dentes por dentadura de ouro, interpretado em 1963 pela figura lendária de Jece Valadão. E em poucas montagens é possível ver um elenco tão bem preparado e uniforme em seus diferentes personagens. Além dos já citados, vale exaltar Claudio Fontana (fiel escudeiro de Villela), Chico Carvalho (espetacular nas cenas finais), Cacá Toledo, Leonardo Ventura (como esposo traído), Mariana Elisabetsky (a belíssima crooner da gafieira), Guilherme Bueno (em papel pequeno) e o pianista Jonatan Harold.

Se há alguma coisa a lamentar em Boca de Ouro são os preços dos ingressos, mesmo constatando que vale centavo por centavo. O teatro estava lotado, mas é uma pena que uma montagem tão brilhante possa ser acessada apenas por um grupo seleto. Deveria ter mais patrocinadores para chegar aos teatros com preços populares.

Não deixem de ver!

Serviço:
Teatro Tucarena
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes
Sexta-feira e Sábado: 21h. Domingo: 18h30
De 11 de agosto a 29 de outubro
Sexta-feira: R$ 50
Sábados e domingos: R$ 50 a R$ 70.

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