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30 de março de 2010

Estrela - Conto - Blog e-Urbanidade

Tem um conto que escrevi há uns cinco anos atrás que divido com vocês aqui. Espero que gostem, pois curte muito fazê-lo.


ESTRELA

Já se falaram em tantas estrelas nas poesias e nas cartas de amor. Das que estão nos céu já disseram que são olhos de Deus iluminando os corações enamorados. Das que estão no mar, falaram que nasceram de uma paixão que aconteceu entre o mar e uma estrela pendurada no céu.

Da que vou falar nasceu em uma máquina de costura, com cinco pontas e de um tecido azul. Parece até mesmo uma falta de sensibilidade começar a falar dela tão secamente, assim tão sem romance. Mas nela não tinha brilho, apenas tinha uns bracinhos que foram pregados para dar a sensação de conforto para quem a abraçasse.

E foi em um abraço que tudo começou, ou melhor, iniciou-se até antes disso, mas já que estamos falando da estrela é melhor nos concentrarmos nela.

Lá estava o tal bonequinho em formato de estrela sobre o sofá no quarto do rapaz que Nildo acabava de conhecer. Na verdade se beijaram muito a noite inteira e tiveram um interesse mútuo em questão de minutos. Claro que desejavam ir para algum lugar rapidamente para poder consumar tanto desejo, mas preferiram deixar para o dia seguinte. Também não decidiram fazer isso por uma convenção ou por decisão mútua, foi mais ou menos coisa do destino. Na saída do bar os carros estavam longe, havia um amigo atrapalhando e uma carona para ser dada, então era melhor ir embora e deixar os telefonemas anotados nos convites que ficavam espalhados sobre as mesas do bar.

No dia seguinte, não resistiram. Beberam muito em algum lugar e foram parar no quarto onde havia a tal estrela. Foi tudo muito fulgaz, forte e juvenil, assim como devem ser os encontros inesquecíveis. Aquela certa tensão é fundamental nestes momentos. Saber quem vai começar, que posição ficará melhor e aquela vontade de ser original e inesquecível são fundamentais para que tudo seja chamado de primeira vez. São cheiros, beijos, olhares, sustos, constrangimentos, esperas, desconfortos, palavras sem sentido... até tudo se acabar, cada um para o seu lado, suados e querendo dormir.

Dormir é muito bom nestes momentos. Não conheço quem não goste. E assim foram eles, mas Nildo sempre precisava fazer isso abraçado a um travesseiro. Como não estava na sua casa e estava a fechar os olhos, abraçou a tal estrelinha azul. Dormiram juntos, foi uma companheira e tanto.

Os bracinhos da tal estrelinha pareciam que abraçavam o rapaz, pareciam que foram eles os amantes naquele noite. Nem mesmos as mudanças de posição durante a noite foram suficiente para separá-los. E ninguém pensa que ela ficou com o pior de toda a história, na verdade penso até que ela tenha ficado com a melhor parte, pois depois do tesão o melhor é dormir abraçado com quem se ama. Parece que é ali que os laços se fazem, se firmam e concretizam.

E foi realmente isso que aconteceu. Nildo acordou, soltou a estrela automaticamente e a deixou caída no chão. Despediu do amante e foi embora para o mundo. Quando falaram ao telefone mais tarde, os amantes lembraram de alguns detalhes, sorriram e ruborizaram de alguns momentos. Sem dúvida repetiriam tudo aquilo novamente, agora sem a precariedade e incertezas da primeira vez. E para o dono da casa foi inesquecível acordar e ver Nildo abraçado com a estrela. Ao mencionar tal visão, Nildo imediatamente lembrou-se que ficou abraçado a alguma coisa, uma estrela, mas não lembrava com detalhes. Precisava vê-la novamente.

Marcaram um novo encontro e trataram de passar pela casa onde habitava a tal estrela. Quando Nildo a viu ali, sobre o sofá, imediatamente lembrou-se da noite em que passara abraçado a ela. Pareceu coisa de vida passada, diria um espiritualista. Começou a relembrar cada mexida, gesto, abraço, aperto e suspiro. O rapaz de repente sentiu aquele momento de prazer inesquecível eternizado naquele bonequinho azul em forma de estrela.

Não sei dizer se os amantes ficaram juntos, se o tal rapaz deixou de ser apenas um sujeito sem nome, mas sei dizer que Nildo não esquece a estrela e lembra dela quando abraça o seu travesseiro. Pensou até em comprar uma dessas para substituí-la nas memórias noturnas, mas com certeza não seria a mesma. Talvez devamos guardar uma mensagem de tudo isso, os verdadeiros amores nascem do contato e do abraço enquanto estamos inconscientes, pois quando estamos conscientes estamos vivendo o amor dos homens e nunca dos poetas.

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