Foi comprovado cientificamente que os otimistas demais não fazem exames, não usam protetor solar, não abrem poupança. |
Sou da época em que teorias da neurolinguística e até mesmo da turma do best-seller O Segredo estavam a todo vapor. Há algum tempo venho me questionando sobre uma certa culpa que essas teorias do “pensamento positivo” nos colocam.
Para minha felicidade, encontrei no dia 12 de julho duas matérias na Folha de São Paulo sobre os efeitos negativos desse pensamento positivo. A coisa é mais ou menos assim, você sempre tem que ser otimista. Pensando assim, você consegue tudo o que quer. O autor João Pereira Coutinho nos conta na sua crônica sobre uma amiga que acabara de falecer de câncer e falas como “ela se entregou a doença” ou “é preciso ser positivo” foram frequentes em todo tratamento e até mesmo no seu velório.
Como tive uma criação religiosa cristã e passei boa parte da minha infância-adolescência ouvindo aquela musiquinha “o que você faz, o que você vê, Deus tudo escuta e tudo vê, vê, sim”, aprendi a conviver com a culpa. Assim sendo, conseguir as coisas – ou não consegui-las – passa também por questões de responsabilidade própria. Logo, estamos novamente no mundo da culpa.
É assim, você quer um emprego novo, se não veio foi porque não é um bom cristão, ou segundo a turma da neurolinguística ou do pensamento positivo, não foi otimista suficiente para isso. Assim sendo, a culpa passa ser um elemento constante na nossa vida diária.
Voltando a matéria da Folha de São Paulo, foi comprovado cientificamente que os otimistas demais não fazem exames, não usam protetor solar, não abrem poupança. Portanto, os positivos podem ter sérios problemas com tanta confiança.
E o que mais me incomoda é essa necessidade que temos, o tempo todo, de pensarmos de forma positiva. Daquele amigo que quando você conta algo ele diz: “já é, basta pensar positivo”. Imediatamente cai sobre as nossas costas a responsabilidade de carregar o mundo. Não que acho que devemos ser melancólicos ou pessimistas demais, mas precisamos imediatamente tirar essa reponsabilidade sobre nós.
Tenho a teoria de que se O Segredo fosse em outros tempos, teríamos elementos suficientes para termos uma Santa Inquisição dos otimistas. Teríamos fogueira ou poderia até já dizer que ela existe, mas acontece no plano psicológico.
Façamos o que deve ser feito, sejamos otimistas quando necessário, mas não sejamos tão ingênuos de achar que isso seja suficiente para fazer com que as coisas deem certo. Ir ao médico, fazer aqueles exames, chorar por uma perda, sentir triste quando algo não está legal são fatos fundamentais e importantes de serem vividos e de serem feitos. E chega de tantos “já é!”.
ah, o importante é ter pensamento positivo. hehe
ResponderExcluirbrincadeiras à parte, concordo com você que ser otimista sem avaliar as circunstâncias é um dos jeitos mais fáceis de se enganar.
por outro lado, ser pessimista impede que sejamos ousados.
como diria o beiço, ''sonhar grande dá o mesmo trabalho de sonhar pequeno''. parece frase de auto-ajuda, mas analisando sem preconceitos, talvez beiço esteja certo.
beijo tio