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12 de junho de 2011

O Código da Vinci - Blog e-Urbanidade

Agora ele resolveu ler o tal O Código Da Vinci. E não parava de ler! Isso era bem comum. Quando pegava uma obra, não sossegava enquanto não chegava à última página. E nunca ouvia uma pergunta de primeiro. Sempre tinha que haver um bis, depois de um "hum?!". Aquilo a deixava louca! Sempre tinha que repetir a pergunta e a resposta era sempre rápida, desentendida ou com monossílabos.

Ele relutou muito para ler o livro. Sempre teve uma certa ojeriza a best sellers e lista de mais vendidos. Mas dessa vez não teve outro jeito. Parece que as cores vermelhas da capa brilharam quando passou perto da estante. Meio escondido, comprou, começou a ler e não parava. Para desespero dela.

Mais de duas semanas de leituras ininterruptas. Ele chegava do jornal, tomava banho, comia algua coisa, entrava num diálogo rápido e curto e, de repente, sumia. Estava em algum canto da casa lendo mais algumas páginas do livro. Quando saia de lá, ia para o quarto. Dava uns beijinhos, fazia uns carinhos... e acendia o abajur. Lia mais alguns minutos (ou horas!).

Ela ficou meio assustada quando soube que o livro havia sido proibido pela Igreja Católica. Tentou até dar uma folheada para ver se tinha algum desenho ou símbolo macabro. Não viu nada demais, apenas letras, aliás muitas letras. Preferiu ficar quieta. Mas o que mais a atormentava é que após aquele, haveria outro e outro, depois outro... Ele adorava ler.

Ela gostada de ler, mas nem tanto. "Aquilo parecia fixação, meu Deus!", pensava ela. "Será que ele está fugindo de mim?", começou a divagar. "Será que ele não me ama e usa os livros com uma válvula de escape?", questionou em prantos numa prece antes de dormir.

Fez o prato que ele mais gostava e abriu todas as portas para que o cheiro chegasse nele. E nada dele aparecer. Contou até mil e resolveu chamá-lo. Ele demorou mais uns quinze minutos e veio com o livro na mão. "Acho que entendi porquê esse livro está proibido", concluiu ela. "Acho que deve separar um monte de casais".

Era tarde da noite do décimo dia quanto dele terminou a leitura. Apagou a luz e suspirou, sentindo que estava com a missão cumprida. Deu uma encostadinha nela para ver se ela acordava. Ela não se mexeu. Fingiu de morta. Não queria dar o braço a torcer.

Ela tomou uma decisão na manhã seguinte: agora, era ela que ficaria dez dias sem falar com ele direito. Iria arrumar alguma coisa que chamasse a atenção dela e esquecesse dele. "O que poderia ser?", perguntou pra uma amiga. Depois do trabalho resolveu andar no shopping. Nada melhor para uma mulher! Entrou numa livraria e ficou olhando, como se estivesse em terra inimiga. Achou um livro perfeito! Comprou uma versão de Kama Sutra e deu a ele de presente. Sempre na hora de dormir, apenas esse livro podia ser lido. Eram ordens expressas dela! E olha que nunca se falaram tanto!

Série  "Felizes para Sempre"
Publicado no Tribuna do Brasil, 
dia 14 de abril de 2005. 
Caderno Maria Bonita.

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