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28 de julho de 2008

Ausência - Crônica - Blog e-Urbanidade

Um poema do meu querido poetinha Vinícius de Moraes. Acho que poucos souberam entrar tão poeticamente na alma dos que amam.

E pra começar a semana, divido este poema, para todos aqueles que sofrem a ausência repentina de um doce amor. Aquele (ou aquela) que possa ter lhe pedido para ser um príncipe encantado (ou a Bela Adormecida), e vc tenha tentado ser. Você tenha até pensado trocar a cor do carro, para parecer com o cavaleiro do cavalo branco. Talvez aquele que tenha esperado pelas tranças para subir a torre e o que veio? A ausência.

É o que sempre digo e constato: a culpa da infelicidade no amor está nos poetas, nos contos de fadas e nas novelas.

Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

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