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10 de setembro de 2010

Clarice para os amantes - Blog e-Urbanidade

Estava devendo a vocês algumas palavras sobre a Bienal São Paulo 2010 e mais especificamente sobre um dos encontros mais gostosos de participar. Tive a oportunidade de assistir um bate-papo, no Salão de Ideias, com a atriz Beth Goulart e Benjamin Moser.

Eu já tinha visto a atriz nos palcos por duas vezes, infelizmente não vi a peça em que interpreta a própria Clarice Lispector. Também não li ainda a biografia de Benjamim, mas está aqui na minha lista – que por sinal está enorme!

O desvendamento da autora foi fascinante e me fez pensar sobre o mundo fantástico de Clarice e como é difícil desvendá-la.

Um dos primeiros momentos e que realmente me fez pensar bastante é que por Clarice se apaixona na adolescência. Ela é uma dessas escritoras que falam diretamente aos jovens mais sensíveis e que buscam algumas respostas nessa fase da vida.

Reconheço que conheci a autora um pouco depois, mas não deixou de ser aos vinte e poucos anos. Mesmo assim, procurei sempre ler as crônicas e contos, pois sempre achei que merecia uma atenção muito especial para desvendá-la. Sem dúvida, fui sempre muito marcado por suas palavras e sua forma fascinante em que vê tudo.

Morse, por exemplo, chegou a autora meio desapercebido. Foi estudar chinês e português. Foi lendo os autores brasileiros que leu Clarice. Já atuando como crítico de cultura de um importante jornal americano, foi a fundo na história da escritora. Visitou o local onde nasceu e passou grande parte do seu tempo em São Paulo, para ouvir as pessoas que conviveram com Clarie. "Foi uma pesquisa profunda e que infelizmente tem mais de quinhentas páginas", comentou na mesa-redonda, justificando o tamanho da biografia, com muito bom humor.

Já Beth foi leitora compulsiva de Clarice na adolescência e decidiu fazer uma peça sobre Clarice e Fernando Sabino. Quando estava tudo certo, a família do escritor pediu para não fazê-la. Desnorteada e com toda uma pesquisa feita, partiu para representar apenas sobre Clarice, escolhendo alguns livros marcantes para descrever o amor, a mulher e outros elementos da autora. "Foi um mergulho sem volta", nos contou no Salão de Ideias.

Um fator interessante da palestra foi perceber como vários elementos da vida da autora estão presentes nos seus livros. É quase óbvio concluir isso, mas isso fascina. Por exemplo, quando ao ler Um Aprendizado ou O Livro dos Prazeres encontrei várias vezes explicando sobre a vida e fazendo comparações com o mar e a natação, dois elementos presentes na sua vida diária, conforme dito na Bienal.

Ao decidir ao falar sobre a mesa-redonda, portanto, me obriguei a ler mais um livro dela. E escolhi um dos que mais tive dificuldade aos vinte e poucos anos, que fui e voltei algumas vezes, Um Aprendizado... Aliás, percebo hoje que é um grandíssimo e lindo livro, porém com uma certa maturidade, principalmente após amar, é que é possível entender melhor. Também foi lá, com Beth e Morse, que soube ser o melhor livro da autora sobre sua visão do amor.

Qual a sua visão de amor? Bem, acho que você deva ler. Mas posso dizer que a personagem principal do livro vai passando por uma gradativa mudança e que a leva a total entrega ao amor. E para isso, ela discute com Deus, a natureza e consigo mesmo. Discussões pra lá de maravilhosas!

E quando um livro me toca, percebo que meu coração anda mais rápido. E me vi assim, várias vezes, enquanto o li.


Separei alguns trechos para vocês:

... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

A mais premente necessidade de um ser humano era tornar-se um ser humano.
Lóri, ouça: pode-se aprender tudo, inclusive a amar! E o mais estranho, Lóri, pode-se aprender a ter alegria!

... não é mesmo com bons sentimentos que se faz literatura: a vida também não.

A vida inteira tomara cuidado em não ser grande dentro de si para não ter dor.

Teus olhos, disse ele mudando inteiramente de tom, são confusos mas tua boca tem a paixão que existe em você e de que você tem medo. Teu rosto, Lóri, tem um mistério de esfinge: decifra-me ou te devoro.

Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário.

A vida era tão forte que se amparava no próprio desamparo.

Mas não gosto de falar tudo. Saiba também calar-se para não se perder em palavras.

Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si.

Tenho certeza de que Ele (Deus) não é humano. Mas embora não sendo humano, no entanto, Ele às vezes nos diviniza.

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